quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ANDROGINIA: UMA POSSIBILIDADE DE SUPERAÇÃO À DICOTOMIA DE GÊNEROS

Referindo-se ao ser humano, podemos dizer que, comumente chamamos de andrógeno os indivíduos que aparentam características físicas masculinas e femininas. Porém o tema é bem mais sugestivo do que parece. No entanto, no que se refere ao humano, e por ser este um sujeito, também, social, a temática pode ficar ainda mais complexa. A androginia não é apenas a junção de características físicas do masculino e feminino. O termo pode ser também utilizado para falar de pessoas que assumem características culturais e ideológicas que correspondem ao universo masculino e feminino.
Além das características biológicas e sociais, o ser humano é dotado de [1]alma”. Por sua vez a alma é uma instância do ser humano onde os sentimentos não passam pelo crivo das construções culturais e biológicas. Assim, a origem e a separação dos sexos é apenas uma ilusão criada pela materialidade e pela existência do corpo físico, com o processo evolutivo da Humanidade, no qual mais e mais da alma vai-se aos poucos conseguindo trazer para a existência, seria (e é) inevitável que uma consciência desta androginia mais cedo ou mais tarde nascesse. Pois é justamente isso que vem acontecendo na humanidade. Até alguns anos a definição de gênero era uma definição simplista e dualista: homens e mulheres formavam a espécie humana. Os papéis e as posturas sociais de cada gênero eram muitíssimo claros e definidos. Com o avançar do Século XX e, mais ainda, com o início do Século XXI, uma nova visão sobre os gêneros e a sexualidade humana brotou e veio confrontar a instituição moral vigente na sociedade. Os gêneros humanos se multiplicaram, frutos de uma nova consciência sobre a própria sexualidade e frutos da tecnologia aplicada. As formas de relacionamento assumiram facetas plurais e fluidas. Como resultado desta mudança, emergiu o conceito da [2]pansexualidade”, múltipla e mutável e, em, último julgamento, tão diversa quanto, diversos são os indivíduos humanos.
Um dos pontos mais incisivos nas sociedades humana é a divisão das pessoas em dois grupos separados e "opostos", chamados de “homens” e “mulheres” ou de gênero masculino e feminino. Arbitrário e artificial, essa dualidade de gêneros não possui nenhum suporte científico, mas as pessoas vivem e agem como se ele fosse um fenômeno verdadeiro e completamente natural. A androginia tem sido considerada como uma estratégia para superar essa “oposição” e exclusão recíproca em que se baseia a idéia de gênero. Na androginia, a masculinidade e a feminidade deixam de ser concebidas como duas categorias opostas e passam a ser compreendidas como duas categorias individualizadas, de tal maneira que a pessoa pode pertencer a ambas, ao mesmo tempo, pois não existe exclusão recíproca entre elas. Assim, uma pessoa pode combinar vários componentes de masculinidade e feminidade em qualquer número de modelos de comportamento, segundo suas preferências individuais, necessidades e própria natureza. Desta feita, a androginia representaria todas as combinações possíveis entre as categorias homem e mulher (masculino e feminino).
Na pós-modernidade o conceito de androginia tem sido bastante refutado por diversos autores, sob a alegação de que, na prática, ele só confirma e reproduz elementos da velha divisão arbitrária de feminino e masculino, devendo, portanto, ser abandonado. A fundamental crítica à androginia é, portanto, de que devemos mover-nos além da dicotomia de gêneros, a fim de superarmos a esquizofrenia cultural e social produzida e sustentada por ela. A dicotomia de gêneros deve ser superada a fim de que as pessoas possam desenvolver a sua própria e única identidade. Faz-se necessário lutarmos em busca de uma desconstrução dessa arbitrária bipolarização de gênero, de tal maneira que existam tantos gêneros quantos habitantes existirem no planeta.


[1] A expressão alma aqui está referindo-se a capacidade de sentir e interpretar seus sentimento e emoções. E este é um fenômeno que se manifestará de maneira única em cada ser.
[2] A pansexualidade é caracterizada por atração estética potencial, amor romântico e desejo sexual por qualquer um, incluindo aquelas pessoas que não se encaixam na binária de gênero macho/fêmea implicado pela atração bissexual. Algumas vezes é descrito como a capacidade de amar uma pessoa de forma romântica, independente do gênero.


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